domingo, 31 de julho de 2016

PALESTRA NO G.A.M.E.

E assim foi a palestra no G.A.M.E. em 27/07/16. Uma noite de muita LUZ! Sou grata pela oportunidade de dar e receber carinho. Espalhar o bem para os que estão à nossa volta é uma bela maneira de homenagear nossos filhos. Eles partiram na frente, deixando nossos corações cheios de amor. Nada melhor que usar este sentimento em favor de nossos semelhantes!

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quarta-feira, 20 de julho de 2016

G.A.M.E.

Aceitei a oportunidade que me foi gentilmente oferecida pelo G.A.M.E. para contar minha história com o Igor e a criação do livro Quatro Letras. Será dia 27/07/16. Todos estão convidados a assistir!

segunda-feira, 18 de julho de 2016

PRESENTE DE DEUS

Tive a oportunidade de escrever, no blog do grupo "Do Luto à Luta", um pouco mais sobre a minha experiência como mãe do Igor:

(https://dolutoalutaapoioaperdagestacional.wordpress.com/2016/06/15/filho-e-um-presente-que-deus-empresta-pra-gente/)


“Assim como as demais mulheres, fiquei grávida, sem ter precisado fazer nada para criar aquela vida, a não ser o pequeno trabalho de permitir que um dos meus óvulos fosse fecundado. PARTICIPAÇÃO MÍNIMA na formação de um novo ser, que praticamente se construiu sozinho. Ele mesmo começou a se multiplicar, cresceu, produziu seus próprios órgãos… Não tenho a menor ideia de como se fabrica uma orelha, muito menos um osso, um pé, um sistema linfático e cada uma das partes que o compunham. Mas ele estava lá, inteirinho, perfeito, com tudo funcionando, para a minha felicidade. E de forma gratuita!
Devido à hemorragia que sofri no oitavo mês da gestação, foi necessário fazer o parto às pressas. E, então, de repente, eu tinha um filho!!! Um corpo individual e autônomo, vivendo em algum lugar por aí. Não sei se as outras mães também sentem isso. Mas, como meu parto foi atípico, porque ele nasceu sem respirar, precisando ser levado com urgência para os procedimentos de reanimação, não pude vê-lo. E, por causa disso, fiquei com a impressão de que ELE NÃO ERA MEU.
Abriguei um volume na barriga durante algumas semanas, que se mexia e me mostrava, com seus movimentos, que tinha alguém comigo. Mas, como não podia tocá-lo com minhas mãos, nem vê-lo com meus olhos, era uma presença VIRTUAL. Depois, sumiu! Foi tirado sem que eu, novamente, participasse da remoção. O peso que me acompanhava se transformou em vazio. A VIRTUALIDADE de sua existência ficou, portanto, ainda maior.
Em razão da gravidade do nosso estado de saúde, ele precisou ser internado na UTI neonatal e eu na UTI materna. Durante os quatro dias que ficou vivo, dezenas de metros e paredes distante do meu alcance, familiares me traziam notícias suas. Deitada na cama, ouvia meus parentes se referirem ao bebê que eu havia gerado, sem conseguir assimilar tal afirmação. Como assim eu tinha um filho, se não participei de nenhum detalhe de seu nascimento, desde o instante em que os materiais genéticos se fundiram até o instante em que ele saiu do útero? Imaginava-o dentro da incubadora, sem acreditar que era real. O modo como os fatos aconteceram dava-me a sensação de que O PROCESSO DE SUA VIDA havia se dado À MARGEM DE MIM.
Toda vez que pensava no meu filho, só conseguia me perguntar: de onde ele veio? Como foi parar aqui? Era óbvio que EU NÃO O HAVIA FEITO. EU O HAVIA GANHADO. Ser mãe não me causava qualquer sentido de posse, porque sua concepção, do início ao fim, transcorrera de forma totalmente ALHEIA À MINHA INGERÊNCIA. Depois, ele faleceu, enquanto eu ainda permanecia impossibilitada de ir ao seu encontro. Assim, tanto a nossa separação abrupta, quanto a circunstância de nunca termos sido apresentados um ao outro, foram eventos que consolidaram a certeza que sempre tive de que NÃO SOU SUA DONA.
Questiono se me sentiria diferente, caso a gravidez tivesse terminado do jeito tradicional. Se ele tivesse saído do meu interior e vindo direto para o meu colo, será que eu pensaria que ele me pertence? A maneira como tudo ocorreu tornou muito clara a compreensão de que ele não é meu filho. ELE É FILHO DE DEUS (ou da Natureza). A Inteligência Universal é a responsável pela organização da matéria que nos dá origem. Ela é a verdadeira mãe de todo mundo. Quando engravidei, não me tornei proprietária do Igor, mas apenas alguém que recebeu o privilégio de passar algum tempo na sua companhia. Saber disso não diminui o valor que ele tem. Pelo contrário, aumenta esse valor, porque traz a consciência do quanto a oportunidade de os seres humanos estarem juntos é especial!”

quinta-feira, 7 de julho de 2016

SENTIDO DA VIDA

Parei de procurar a justiça no falecimento de um bebê muito desejado e amado, e decidi me conformar com o fato de que não há nada de absurdo em morrer. A natureza é assim mesmo: basta observá-la para entender que ela se perpetua através do constante transitar entre a vida e a morte. A partir do momento em que tudo o que nasceu, mais cedo ou mais tarde, terá que falecer, assim como os átomos que compunham aquele corpo que faleceu, futuramente serão reciclados e poderão vir a compor um novo corpo, que nascerá depois, a passagem de um estado para o outro é algo normal e pode atingir qualquer pessoa. Não obstante essa realidade dura e implacável, nós somos dotados dos recursos psicológicos necessários para aceitar as coisas como elas são, e nos adaptarmos às mudanças, toda vez que elas ocorrerem.

Considerando que a morte é a única certeza da vida, o Igor teria mesmo que morrer um dia. Só não esperava que fosse antes de mim, e nem antes de ele poder ter algumas experiências felizes. Foi uma pena ele ter ido embora, sem conhecer a delícia que é dar um mergulho na praia, assistir o pôr do sol, provar o sabor de uma framboesa, ler um poema, ouvir o canto de um passarinho e se apaixonar. Mas tendo ou não feito essas e outras coisas, todos nós um dia teremos que partir também. Então, preferi pensar que, independentemente da quantidade de dias que durou a sua existência material, ele completou sua missão, dentro do tempo que lhe esteve disponível.

Afinal, por que queria que meu filho vivesse todas aquelas experiências que sonhei para ele? Para que serve tudo isso que nós fazemos neste planeta, com o objetivo de alcançar tanto fascínio, alegria e prazer? Não são formas de buscar que nossa passagem por estas terras não seja em vão? Então, refletindo sobre isso, percebi que beijar, sorrir, dançar, e todos os outros verbos que praticamos não são fins, mas meios. Não fazemos essas coisas só por fazer, mas porque esperamos que elas sejam o modo pelo qual realizaremos nossas conquistas pessoais. Beijamos para estabelecer vínculos afetivos, sorrimos para inspirar simpatia e criar um ambiente de boa convivência, dançamos para expressar uma arte ou interagir com os semelhantes, e todo ato externo do nosso corpo tem como objetivo nos dirigir ao alcance de um valor interno, que está além desses meros movimentos físicos.

Assim, vejo que o modo como os seres humanos se comportam está revelando que o que nós queremos, em última instância, é transformar o mundo e sermos transformados por ele. O sentido da vida é provocar essas transformações. De quanto tempo precisamos para isso? Observando a beleza do amor que o Igor plantou dentro dos corações de seus pais, tenho certeza de que, em pouco mais de cinco mil horas, ele conseguiu cumprir sua finalidade!

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sexta-feira, 1 de julho de 2016

AMOR NÃO SE ESCONDE

Quando engravidei, recomendaram-me esperar três meses para dar a notícia, porque nesse período é grande o risco de perder o bebê. Explicaram-me que, se eu não contasse a ninguém até esse momento, não teria que passar depois pelo constrangimento de comunicar a perda, caso ela ocorresse. Isso nunca me pareceu razoável. Mas, imaginava que talvez eu é que não conseguisse entender os motivos que justificavam tal conselho.

Quando o Igor morreu, pude confirmar que minha suspeita estava certa. Não havia razão para que eu tivesse ocultado do mundo o filho que concebi, amei e partiu. A morte dele não mudou absolutamente em nada o fato de que continuo carregando-o comigo para todo lugar que vou. Se estivesse vivo, carregaria nos braços. Como não posso fazer isso, carrego no coração. O jeito de carregar é irrelevante. O ato de carregar é inevitável.
Falar dele, pensar nele, sonhar com ele, escrever para ele, vibrar por ele, jamais deixará de integrar minha rotina. Então, de que teria adiantado esconder das pessoas algo tão importante, um pedaço de mim sem o qual não sou mais eu mesma? Conhecer a Flavia sem conhecer o Igor é não me conhecer de verdade, porque faltaria a parte principal! Afirmo com toda certeza que, se nossa separação física tivesse ocorrido antes da minha barriga crescer, nosso amor ainda seria o mesmo que é hoje, independente do tamanho que minha barriga estava no dia que ele se foi.
Para mim, não faz sentido nenhum que, se futuramente eu conceber outro filho que venha a partir também, eu seja obrigada a manter meu amor por ele em segredo, em anonimato, como se isso fosse um crime, só porque viveu menos tempo que o irmão. Não vejo diferença entre as duas maternidades. É doloroso ter que dizer para as pessoas que meu filho morreu? Sim. Seria melhor não precisar dizer isso, caso elas nem soubessem que ele existia? Não, porque para fazê-las permanecerem ignorando sua existência eu teria que passar o resto da vida sem mencioná-lo e isso eu não seria capaz de fazer. Passar os próximos anos fingindo que alguém que amo tanto não existiu seria uma mentira que não desejo sustentar. 

Se saber que meu filho morreu lhe incomoda, lamento muito. Gostaria que minha história não lhe causasse qualquer incômodo. Entretanto, não posso arrancar aquilo que me faz ser quem sou, só para minha identidade se tornar mais agradável aos outros. Quem quiser ser meu amigo vai fazer amizade com o Igor e com todas as pessoas que moram dentro de mim também! Veja que privilégio poder fazer tantos amigos de uma vez só! :)

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