Como me vejo impedida de colocar meu
bebê no colo, esfregar meu nariz na sua bochecha, embalar seu sono, sentir sua
respiração fazendo cosquinha no meu pescoço, estou sendo obrigada a conhecer um
novo tipo de amor. Mesmo tirando de mim algo que tanto queria, a natureza me
estendeu com a outra mão um novo presente. Agora estou aprendendo uma forma de
amor que nunca precisei exercitar antes.
Quando não se tem o ente querido por
perto para falar com ele e lhe dar carinho, o que resta fazer? De que outra
forma o amor pode se expressar? Como lhe dar vazão? É possível realizar o amor
na ausência do objeto ao qual ele se destina? Certamente que sim. Mas
dificilmente o realizamos com esse desapego, quando podemos praticá-lo da forma
mais fácil. A morte do meu filho veio me trazer um aprendizado muito valioso: o
aprendizado sobre a forma genuína como o amor sempre deveria ser.
Uma coisa que notei é que as
circunstâncias fáceis da vida atrapalham o desenvolvimento pleno do amor, uma vez
que propiciam a vinculação do sentimento a várias condições. Assim, sem
percebermos, quando temos o direito de fazer exigências, acabamos cedendo ao
impulso de condicionar nosso amor pelo outro ao fato de ele nos amar com a
mesma intensidade, fazer o que mandamos, ter pensamentos iguais aos nossos etc.
Mas, quando a pessoa que a gente ama morre, não podemos mais fazer nada disso
e, então, conseguimos amá-la da forma mais pura que existe: incondicionalmente.
Não temos mais opção de amar de outro jeito. Ou amamos assim, ou não amamos,
porque a pessoa que morreu, simplesmente, não pode mais atender nossas expectativas.
E se formos capazes de a continuar amando, depois disso, conhecemos o
verdadeiro amor!
Mesmo sabendo que o Igor nunca vai
me chamar de mamãe, nunca vai me dar um sorriso, em retorno ao sentimento que
lhe dedico, nunca vai me dar um presente no dia do meu aniversário, nada disso
tem importância e nenhum motivo no mundo é capaz de me fazer deixar de amá-lo.
Ele não precisa fazer mais nada, além do fato de ter vivido 33 semanas dentro de
mim, para ser o alvo do meu amor eterno. Com a sua morte, descobri que, para
amar uma pessoa, não precisamos possuí-la, e todos os dias sou forçada a
cultivar meu amor, sem depender da presença da pessoa a quem o sentimento se
dirige. Eu nunca havia experimentado um amor assim. Por mais difícil que seja praticá-lo,
sinto que nunca amei tanto! E nunca amei de forma tão sincera!
Então, constatei que, algumas vezes,
quando a vida é dura conosco, podemos aproveitar a experiência para adquirir
uma nova habilidade. Percebendo que eu não havia apenas perdido, já que a morte
também me trouxe ganhos, consegui encontrar mais um motivo para voltar a me
sentir feliz.